Estudo aponta que em
Pernambuco mais da metade da Caatinga foi perdida
Nesta
terça-feira, 28 de abril, é comemorado o Dia Nacional da Caatinga. Mais do que
comemoração, a data pede ações urgentes de restauração do bioma. De acordo com
dados do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), em Pernambuco, de
um total de aproximadamente sete milhões de hectares de Caatinga mapeados,
apenas 46,89% apresenta hoje cobertura florestal.
Pelo
estudo, mais da metade, 51,06%, foi convertida em áreas para usos agrícolas e
pastagens. Nas áreas localizadas às margens de cursos hídricos, denominadas
pela lei de proteção à vegetação nativa de Áreas de Preservação Permanente
(APPs) onde há a obrigatoriedade de cobertura florestal em toda sua extensão, apenas
30,3% estão cobertas por floresta.
Os
64,3% restantes estão ocupados com atividades agropecuárias. O levantamento faz
parte da primeira fase do projeto O Papel da Restauração Ecológica na
Sustentabilidade da Caatinga, realizado em parceria com o Laboratório de
Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e com
professores e pesquisadores convidados de diversas Universidades.
Considerando
um total de 60 milhões de hectares distribuídos entre os estados do Nordeste e
a região Norte de Minas Gerais, cerca de 40% do bioma foi desmatado e é ocupado
por agricultura e pastagens, e cerca de 20% está em processo ou suscetível à
desertificação.
O
estudo aponta ainda que 37,97% do bioma é ocupado por atividades que têm como
destaque as pastagens, e 59,4% dessas áreas são de floresta, enquanto o
restante dos territórios está dividido em outros usos.
Já
em relação às APPs ao longo de toda área mapeada, o estudo demonstra que apenas
50,3% têm cobertura vegetal, enquanto 43,23% estão ocupadas com atividades
agropecuárias ilegais. A ausência de vegetação nessas áreas promove um impacto
negativo, inclusive às populações humanas do bioma, pois a vegetação assegura a
qualidade dos rios, ajudando a reter sedimentos e minimizando os danos causados
às calhas, além de ajudar na melhoria da qualidade e disponibilidade hídrica ao
longo do ano na região.
“Esses
dados são preocupantes e denotam a importância de criarmos mais unidades de
conservação para preservar o que ainda existe e, além disso, estimular as
atividades de restauração”, afirma o coordenador de Projetos do Cepan, Joaquim
Freitas. À medida que as fronteiras de desertificação avançam, pressionam a
população a situações extremas, podendo chegar até à necessidade de relocação.
Segundo
os dados do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), a
Caatinga é um dos biomas a serem mais afetados pelos efeitos nocivos das
mudanças climáticas no mundo. Ainda segundo o órgão, é possível que em cerca de
50 anos, já se inicie um quadro de refugiados do clima.
“Esse
cenário em que você tem os efeitos prejudiciais das mudanças climáticas agindo
no bioma e uma pressão sobre os recursos naturais aliados a um cenário de
desmatamento, que está em avanço na região, demanda urgentemente políticas
públicas para a sua resolução”, destaca.
Na
Caatinga, especialmente, as questões sociais e ambientais se confundem, devido
à vulnerabilidade social do bioma. “Quando falamos na Caatinga, estamos nos
referindo ao ecossistema semiárido mais populoso do planeta.
São
cerca de 27 milhões de pessoas morando nessas áreas que, muitas vezes, fazem
parte das regiões mais pobres do Brasil e mais carentes de todos os tipos de
recursos” reforça. Nessa direção, a análise utilizou a diretriz Nexus, que
trabalha os eixos de sustentabilidade hídrica, alimentar e energética, que ajuda
a identificar regiões onde as atividades de restauração florestal podem trazer
benefícios para estas temáticas, estendendo-os à população do bioma.
“Os
dados são importantíssimos para que atestemos a intrínseca relação entre as
atividades de restauração florestal para a garantia da segurança hídrica,
energética e alimentar, abordagem fundamental para a garantia de ações
executivas de recuperação de áreas degradadas no contexto social do Semiárido
brasileiro, defende Severino Ribeiro, diretor-Presidente do Cepan”.
A
equipe da UFPE, liderada pelo professor Felipe Melo, vai prosseguir o estudo
realizando a validação dos dados coletados junto a atores sociais. Em seguida,
será feita uma análise de custos e precificação do cenário necessário para
restaurar o bioma.
O
documento servirá como base para permitir a discussão em diversos níveis, a fim
de que haja a aplicação de políticas públicas voltadas a recuperar a Caatinga.
“A ideia desse projeto é trazer os primeiros experimentos e modelos de
reparação para que tenhamos uma base conceitual e saibamos como efetivamente
fazer o trabalho com baixo custo. Ao final, além do documento norteador de
políticas públicas, teremos um documento científico e técnico que vai nortear
todas as atividades, mostrando as oportunidades identificadas e desafios a
serem vencidos”, finaliza Freitas.
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